terça-feira, 4 de outubro de 2011

MATERIA 1

                                    ANA BRANDÃO; NÃO: ANA BRANDOA


       Apesar de tudo já devidamente explicado sobre o grande equívoco da História Feirense --Ana Brandoa -- boa parte de nossos jornalistas e radialistas continua a proferir "Ana Brandoa", e a escola municipal situada no bárrio Tomba continua com o mesmo erro.
       Como este espaço não é longo, limito-me a algumas evidências da assertiva de que a forma "Brandoa" nunca funcionou em Brasil, mas apenas em Portugal, no século 14, em homenagem a uma moça que utilizou esta forma errônea -- alteração do posnome paterno "Brandão" -- criou-se a expressão toponímica "Distrito (ou Freguesia?) de Brandoa" nos arredores de Lisboa. A partir de então, esta deturpação gramatical (corruptela) não teve outras aplicações:
      1- No dia 21 de setembro de 2009 redigi uma matéria com o mesmo título para refutar o artigo "Ana Brandoa é Brandoa mesmo", publicado no dia 17 de setembro daquele ano, no jornal Folha do Norte (edição centenária). A matéria está em nome do jornal, mas seu conteúdo é de autoria do professor Carlos Melo, pesquisador daquele periódico.
      2- Infelizmente, muita gente tem-se arvorado a atuar no campo da Etimologia, nos nomes comuns e ou nos nomes próprios (principalmente na Antroponímia e na Toponímia) sem o mínimo preparo, sem sequer uma razoável base em Língua Portuguesa (1).
     3 - Etimologia, uma das principais aplicações da  Filologia, atua em consonância com a Gramática Histórica, com a História, com a Geografia e outras ciências auxiliares da Filologia. O filólogo mais minucioso de Brasil, no item "Datação Histórica", é Antenor ( de Veras) Nascentes (Rio de Janeiro, 1886 -- 1972). Ele não faz referência a forma Brandoa. Vários outros dicionários de Antroponímia e de História (2) (incluindo enciclopédias) foram consultados: também nenhuma referência a Brandoa. É impossível que um posnome (tradicionalmente chamado "sobrenome") funcione num país numa única pessoa. Isto é possível somente nos epítetos e nos cognomes.
     4- Depois de muita troca de idéias com o professor Joaquim Gouveia (da Gama), historiador e geógrafo de nossa cidade, cheguei a algumas conclusões novas a respeito da origem do equívoco:
    ** Ocorreu um engano na linguagem oral e ou na linguagem escrita. Lembro que Ana Brandão era analfabeta. Sua assinatura na escritura de doação de uma terra, em nossa história, foi a rogo.O professor Joaquim Gouveia com base em monsenhor Renato (de Andrade) Galvão, informa que na referida escritura consta realmente Brandão.
     ** Ainda fui informado de que o erro possa ter sido originado da influência de um movimento de alguns intelectuais da época, para que os posnomes passassem a flexionar em gênero, adotando uma forma específica para as mulheres. No caso, aqueles posnomes terminados em -ÃO passariam a -OA. Aquele movimento não teve a aprovação da Academia de Ciências de Lisboa, por ser desprovido de fundamento gramatical e antroponímico.
     No Português arcaico, alguns nomes individuais  em -ÃO tinham o feminino em -OA, como Simão/Simoa. "Brandão" é uma forma inadequada do Nome germânico "Brendano". Passou a posnome por erro de função. A forma antiga "Brandon" (-m) é errônea. Pela Etimologia, o Latim "BRENDANUS, -I" daria, no máximo, a forma feminina "Brandã" ou "Brandana", nunca "Brandoa". Lembro que "Brandão", nome comum, tem origem no francês brandon, cuja origem remota é a mesma do posnome Brandão (3)
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    NOTAS:
    1- Exemplos:
    * "Brasil: por causa de uma árvore da cor de brasa"
    * "Caramuru: homem do fogo"
    * "Jacobina: em homenagem aos Jacobinos, grupo político francês do tempo da Revolução Francesa, ou de um casal local Jacó e Bina"
      * " Geminiano: do Latim: que geme"
       2- Entre tais obras, destacam-se: o Dicionário das Famílias Brasileiras, e dois dicionários da Antroponímia de Portugal: um de Genealogia e um de Heráldica
      3- Quando afirmei que Brandon é uma forma errônea, referi-me especificamente à Língua Portuguesa. O Nome latino Brendanus e o nome comum francês "brandon" vêm do nome comum germânico "brand", cujo significado inicial era "tição, facho". Posteriormente tomou a acepção de "espada". O nome individual "BRENDANOS"  tem relação com "espada" (grande guerreiro), e o nome comum "BRANDON" continua com a significação original de tição, facho.
OBSERVAÇÂO FINAL:
     No livro "Pequena História de Feira de Santana" (1971), o professor Raimundo Pinto tratou de dois temas gramaticais ligados à Antroponímia feirense: "Brandoa"(página 174) e "Santana"(página 176). Em ambos os casos, ele comete equívocos evidentes. Em "Brandoa", por exemplo, ele afirma que Ana Brandão "preferia tal  forma e que a usou na  referida assinatura". A personagem Zé afirmou: "O melhor então é a gente usar como o povo gosta mais"
    Quanto a Santana, o autor afirma que ela é a "maneira certa e oficial de escrever o nome de nosso municipio. Muitas pessoas, porém preferem conservar a forma antiga quando fazem alusão à santa. Eu mesmo prefiro".
     Existe uma certa confusão, no diálogo, entre forma e grafia, além do conceito equivocado sobre aquilo que deve ser preferido no setor gramatical.

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