quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Série Linguagem e Onomástica - Nº 26

O Sistema Ortográfico Vigente
Professor Rodrigues Silva: • gramático racionalista • filólogo  • onomástico.   

          No dia 1º de Janeiro de 2009, entrou em vigor um malfadado sistema ortográfico, que começou a ser idealizado em 1990. Como prova incontestável de suas más qualidades, de seu aspecto polêmico, sua vigência foi adiada por várias vezes. Inicialmente, estava previsto para entrar em vigor em 1995. O adiamento deveu-se à resistência de vários países, principalmente Portugal – a pátria-berço de nossa língua.
          Os motivos apresentados como justificativas do projeto foram o mercado internacional de livros em Língua Portuguesa e a necessidade de unificá-la entre os diversos países. Segundo os defensores desse sistema, o mercado internacional de livros em Língua Portuguesa exige a unificação do idioma, com uma ortografia única.
          É preciso eliminar-se os equívocos destas afirmações: Em primeiro lugar, o que dificulta a compreensão de um texto em Língua Portuguesa publicado em outro país não é a GRAFIA, mas a Semântica, e às vezes, a Morfologia. A grafia é o que existe de mais superficial de uma Língua. Se em Brasil se escreve “Antônio” e em Portugal se escreve “António”, isso em nada dificulta a compreensão do texto. Quanto à presença de um -C ou de um -P após uma vogal, muito comum em Portugal, como em “director”, isto também nada dificulta na intepretação do texto. É preciso ficar bem claro que o problema é acima de tudo semântico, e neste ponto não se fala em unificação, porque realmente é quase impossível, apesar de ser o ideal. Assim, pois, a justificativa deste projeto vai frontalmente de encontro a um princípio lingüístico claro: Não se pode unificar a linguagem entre Brasil e outros países de Língua Portuguesa com a mudança de ortografia, porque tais países falam diferentemente.
          Apresento nesta matéria apenas alguns exemplos de grandes falhas do atual sistema:
1) Continuou a satisfazer à tendência popular da “mania de simplificação da ortografia”. Um exemplo é a supressão de sinais diacríticos, como nas terminações –éia e –óia. O outro caso é a grande mudança do emprego do hifem – diga-se de passagem – totalmente desnecessária.  
2) Não corrigiu falhas do sistema ortográfico de 1943, apontadas pelos filólogos e gramáticos, como: “xucro (do Espanhol chucre)”; “xereta (do verbo cheirar)”; “giz (do Árabe jibs)”. Outro caso que inclui um número muito grande de palavras é o C- (Ç) nas palavras de origem indígena. Silveira Bueno mostra claramente que esta regra ortográfica não tem fundamento, porque, sendo as línguas indígenas ágrafas, tem-se obrigação de grafá-las conforme nossas próprias regras ortográficas, isentas de influências alienígenas. O equivoco começou com a grafia espanhola do topônimo “Iguaçu”, em Espanhol: “Iguazú”. Palavras como “Maçaranduba”, “Itapecerica” e muitas outras, de origem indígena, devem ser escritas com S --(SS). Outro exemplo muito comum é o emprego do G- (GUÊ) em lugar do J-, também nas palavras de origem indígena. Nos nomes próprios, um exemplo bem conhecido é “Sergipe”, cuja grafia correta é SERJIPE. Nas palavras de origem árabe, ocorrem estes dois problemas (do C / Ç e do G em lugar do J). A Língua Portuguesa “usa e abusa” do Ç!
3) Quanto aos nomes próprios, o atual sistema em nada melhorou; pelo contrário: PIOROU, porque retirou do texto toda menção ao assunto, com exceção apenas daquilo que nunca deveria ter existido – o H do topônimo BAÍA!!!... Este –H- é até motivo de piadas entre os filólogos!!!...  Assim continuam os erros oficiais na Onomástica: BAHIA, SERGIPE, RORAIMA (erro de forma), GUIANA, RAGUEL, GUEL, ANGUERA, ANHANGUERA, ETC. Observe-se que nos nomes próprios, os sinais diacríticos são mais importantes que nos nomes comuns, porque enquanto nestes o contexto facilita a distinção de classe de palavra e de pronunciação, nos nomes próprios isto não acontece. Um bom exemplo é: FRANCA / FRANÇA: ambos são topônimos-posnomes. Como, então, distinguir um do outro quando não se usa a cedilha?
4) Nomes das letras: Ao invés de retirar algumas falhar nesse setor, inclusivamente recomendando a nomenclatura fonética (mê, nê, etc), o atual sistema conserva nomes errados, como “dáblio” e “ípsilon”. Além disto ele preceitua mais ou menos assim: “Outros nomes podem ser dados às letras do alfabeto”.
5) Se o “retoque ortográfico” de Dezembro de 1971 retirou quase todo acento diferencial, o atual sistema retirou o pouco que ficou daquela vez e muitas outras coisas que nunca deveriam ser retiradas, como o TREMA e o acento diferencial das terminações –éia e –óia, além de outros. Assim ficam, oficialmente: Tranquilino, Leia, Lindoia, Jiboia, etc. No caso do trema: Os gramáticos o aplicaram a três casos totalmente diferentes: Observe-se a pronunciação de “tranqüilo”, de “argüir” e de “Güiana” (Os exemplos falam por si mesmos).     
6) Ressalto que a grafia é importantíssima como um meio não somente de padronizar a Língua Escrita, mas também de mostrar claramente a pronunciação de cada palavra, deixando evidentes, em muitos casos, sua classe e seus homônimos e parônimos. Com a aplicação deste principio, muitos casos nos quais os dicionários têm que indicar a pronunciação, tal registro seria totalmente desnecessário. Sabemos muito bem que boa parte de nossa população não tem o hábito de consultar dicionários e gramáticas. Então um sistema ortográfico minucioso quanto à grafia soluciona inúmeros casos de erros ortoépicos. Alguns linguísticos (sic) defendem o “despojamento da escrita”, segundo o qual a escrita deve ser o mais simplificada possível, visto que os falantes sabem de que se trata ao ouvir ou ler cada palavra. ESTE É UM GRAVE ENGANO!... Primeiramente porque boa parte das pessoas não se preocupa com a linguagem, não lhe dá o valor que ela merece; assim, possuem um vocabulário pobre e desconhecem até as características fonéticas da própria Língua, empregando, muitas vezes estrangeirismos como se fossem palavras portuguesas. O segundo motivo é que uma pessoa, por mais culta que seja, não consegue assimilar, talvez nem 1/3 dos vocábulos da própria Língua, principalmente das línguas de povos considerados “cultos”.
7) No item “Emprego de Iniciais Maiúsculas”, ocorram diversos equívocos: Primeiramente nas locuções onomásticas (principalmente toponímicas e subtoponímicas), permitiu-se a inicial minúscula do vocábulo geográfico: “rua Tupanciretã” (O vocábulo geográfico é parte integrante da locução).  Em segundo lugar, não se revogou o preceito de iniciar cada verso das poesias com a inicial maiúscula. Este preceito é oriundo do antigo sistema anárquico de grafia.             
8) Finalmente reconheço que este sistema trouxe alguns pontos positivos. Quase todos eles eu já praticava e recomendava: “começâmos”, “guarda-/-roupa”, “voo” e “leem”. Outros casos: “baiuca”, “faisca” (mesmo caso de “Eliude” e “a miude”, oficialmente: “amiúde”).
          Considerando, pois, esta situação caótica, na qual nenhuma mudança de grafia, desde o inicio do século 20, conseguiu chegar a um ponto razoável, útil a todos os cidadãos, misturando constantemente grafia etimológica com grafia fonética e com grafia anárquica, a única solução, a melhor solução é a grafia fonêmica.


Feira de Santa Ana, BAÍA, 26/ Fevereiro/ 2014     

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário